sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Miriam Leitão e a garupa tucana nos números da pobreza

Em sua coluna do dia 14 de Julho de 2010 entitulada Os pobres, Miriam Leitão defende a tese de que os “fatos mostram que há uma continuidade no processo de redução da pobreza brasileira nos últimos 17 anos”, e que o fenômeno não deveria ser atribuído a um governo apenas. No rodapé da coluna ela publica o gráfico abaixo e cita como fonte Ricardo Paes de Barros que, segundo nos diz em sua coluna, é considerado o maior especialista brasileiro em pobreza.

Vamos ao gráfico. É possível notar que houve um primeiro grande momento de queda que se deu no final do governo Itamar em função do Plano Real que Miriam atribui, acertadamente, à queda da inflação promovida pelo plano de estabilização econômica elaborado pela equipe de Fernando Henrique Cardoso quando este era Ministro da Fazenda de Itamar Franco. À partir desse ponto começa o truque. Miriam desenvolve sua tese a partir da premissa de que não haveria qualquer diferença entre o FHC Ministro e o FHC Príncipe assim como não há diferença entre as idéias do sociólogo e as do político:“Para que a conta fique correta, não se pode registrar a partir de 1995 mas de 1993 quando se pega o que havia antes do Plano Real.” Tudo bem.

Porém, a diferença entre o Ministro e o Príncipe ficará clara a partir da análise dos dados do gráfico que vamos fazer a seguir. Miriam, entretanto, continua em sua cruzada defendendo o seu Guia: “O percentual de pobres e de extremamente pobres sai de 47% e vai para 38,6%, e lá fica em torno desse número até o fim do governo Fernando Henrique. Em 2003 há uma pequena elevação para 39,4% e começa um novo período de queda, desta vez constante, até chegar a 25,3% em 2008.”

A análise e o discurso de Miriam tentam dar a impressão de que Fernando Henrique Cardoso depois de ter promovido significativa diminuição da pobreza enquanto Ministro da Fazenda de Itamar viabilizou um período de estabilidade e foi muito bem sucedido em impedir que o número de pobres voltasse a subir já que ela minimiza a pequena e insignificante elevação desse número ao final de seu segundo mandato e muito menos tece qualquer comentário que esclareça os motivos que levaram ao aumento mencionado. Miriam não poderia estar mais longe da verdade!

Não podemos nos esquecer de que estamos falando em valores percentuais e que esses são números relativos que não podem ser devidamente analisados sem que se leve em consideração a variação da grandeza com a qual eles se relacionam: no caso em questão, a população brasileira.

E é aí que a Leitão torce o rabo. Não dá para entender como que, mesmo amparada pelo maior especialista em pobreza do país, Miriam possa ter se esquecido de que, segundo números do IBGE, entre 1995 e 2002, a população brasileira cresceu 11.6%. Ora, não é necessário ser um doutor em economia para concluir o que acontece quando a população cresce 11.6% e o percentual dos pobres e extremamente pobres se mantêm praticamente inalterado... vai dois... noves fora... voilá! Houve, na verdade, um aumento real do número de pobres, o que coloca por terra a tese claramente tendenciosa da colunista sobre a continuidade dos esforços de redução da pobreza. Mas não para por aí não. Intrigado pelos números fiquei curioso em saber o impacto real desses percentuais e fui buscar no site do IBGE os números relativos ao crescimento da população. Sinceramente, fiquei estarrecido com o resultado quando coloquei lado a lado o crescimento da população brasileira com o número absoluto de habitantes vivendo na condição de pobreza em nosso país. Esses números foram facilmente conseguidos à partir de uma regra de três simples usando os dados demográficos do IBGE e as percentagens fornecidas pela senhora Leitão. Veja os resultados da pesquisa no gráfico abaixo:
47% de 149.2 milhões = 71.2 milhões;
38.6% de 155.7 milhões = 60.1 milhões;
38,3% de 171.6 milhões = 65.7 milhões;
39.4% de 176.8 milhões = 69.6 milhões;
25.3% de 189,6 milhões = 47.9 milhões;

Aquela “pequena elevação” do final do governo simplesmente contribuiu para trazer o número de pessoas vivendo em condição de pobreza de volta a patamares pré-plano Real. Ou seja, se Fernando Henrique, como Ministro idealizador do plano Real, tirou 11 milhões de pessoas da pobreza, como Príncipe fez o favor de retorná-las à sua antiga condição quase que integralmente. E sua serva, a senhora Leitão, auxiliada pelo maior especialista em pobreza do país usam e abusam da matemática para distorcer os fatos e convencer seus leitores de que não houve um hiato significativo entre os dois momentos de redução da pobreza por eles citados e que tanto os tucanos como os petistas devem ser parabenizados pelos seus esforços tão bem sucedidos nessa área. Isso é que eu chamo de garupa!

Então Miriam, para que a conta fique correta vamos combinar o seguinte: Fernando Henrique Cardoso tirou 71.2 - 60.1 = 11.1 milhões de brasileiros da miséria com o Plano Real. Depois durante os seus dois mandatos levou 69.6 - 60.1 = 9.5 milhões de brasileiros de volta à condição de pobreza. O que faz com que a contribuição do PSDB ao processo de redução da pobreza no Brasil fique em 11.1 - 9.5 = 1.6 milhões de brasileiros. Durante os 8 anos de governo Lula a população cresceu 10.1% entre 2003 e 2009 — os números de 2010 ainda não se encontram disponíveis — e 69.6 - 47.9 = 21.7 milhões de brasileiros deixaram de viver na condição de pobreza. Ao que parece não é a Dilma que sai por aí andando de garupa!

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